Teoria sem prática não vale de nada. O importante é buscar compreender a realidade por si próprio
Por Alice Duarte
Vou começar este post com uma pergunta poderosa: como você, via de regra, faz para compreender a realidade? Lendo livros e reportagens, ouvindo palestras, fazendo cursos ou por meio de alguma doutrina e religião? Já parou para pensar no quanto a sua visão de mundo está condicionada e até contaminada por crenças, dogmas, tradições e interpretações que os outros deram para a realidade? O quanto as adotou como verdade absoluta?
Talvez não se dê conta de que tudo isso funciona como lentes de contato coloridas que interferem em como essa realidade aparece para você. Alguém pode estar usando uma lente azul e outro uma lente verde. Ambos divergem sobre qual é a verdadeira cor do mundo e brigam porque querem provar que estão certos. E de fato estão falando a verdade. Mas a realidade objetiva nenhum dos dois está conseguindo ver.
No início da minha juventude comecei a adotar a seguinte postura: quando alguém vinha me contar algo novo, uma descoberta extraordinária, uma terapia, uma técnica, algo surpreendente, eu pensava com meus botões: “Não acredito, nem desacredito.” Quando era alguém de confiança e por quem nutria admiração e respeito, como meus pais, amigos e mentores, ouvia com especial atenção, mas depois ia lá eu mesma experimentar para ter a minha experiência sobre o assunto. Assim eu poderia contar para os outros o que vivi e não o que os outros viveram.
Mais tarde, estudando as filosofias práticas como a Constelação Sistêmica, o Yoga, o Budismo e outras correntes de pensamento do Oriente, pude comprovar a importância de buscar por si próprio uma sabedoria. Aquela que se vive e que se experimenta.
Para ajudar a clarear essa questão, transcrevo a seguir um breve conto transmitido por Satya Narayan Goenka, professor de meditação Vipássana natural da Birmânia, em suas palestras de dhamma:
Um jovem professor, com educação superior e pouca maturidade, viajava de navio, onde havia também um velho marinheiro analfabeto. Às vezes o marinheiro ia à cabine do professor e ouvia suas palestras tão eruditas e ficava muito impressionado. Um dia, quando saía da cabine, o professor perguntou:
– Meu velho, você estudou Geologia?
– O que é isso, senhor?
– A ciência da terra.
– Não senhor, eu nunca fui a nenhuma escola, nunca estudei nada.
– Meu velho, você desperdiçou ¼ da sua vida.O velho ficou muito triste. “Um professor tão sabido diz isso, então na certa desperdicei um quarto da minha vida”, pensou. No dia seguinte, após a palestra, o velho estava de saída de novo e o professor perguntou:
– Meu velho, você estudou Oceanologia?
– O que é isso, senhor?
– É a ciência desse mar, desse oceano.
– Não, senhor. Como lhe disse nunca estudei nada.
– Meu velho, você desperdiçou metade da sua vida.O velho ficou muito triste. E de novo, no terceiro dia, o professor perguntou:
– Meu velho você estudou Meteorologia? A ciência do tempo, chuva e vento.
– Não, senhor. Como lhe disse nunca estudei nada.
– Meu velho, você desperdiçou 3/4 da sua vida.O velho estava triste, muito triste. “Um professor tão sabido diz isso, então na certa desperdicei 3/4 da minha vida”, pensou. No dia seguinte foi a vez do velho. Ele chegou correndo:
– Senhor professor! Senhor professor! Já estudou ‘Nataçãologia’?
– O que é isso?
– O senhor sabe nadar?
– Não, não sei nadar.
– Senhor professor, o senhor desperdiçou sua vida inteira. O navio está afundando, quem souber nadar chegará à outra margem. Quem não souber nadar vai morrer, sinto muito pelo senhor, professor.
De que serve compreender o mundo por meio da sabedoria alheia? Você até pode aceitar por ter fé, devoção ou admiração pela pessoa que ensinou. Isso pode te ajudar como um mapa para se chegar aonde precisa. Mas só isso não basta. Você terá que percorrer o caminho por si mesmo.
Há aqueles que recusam-se a ter uma fé cega e ficam buscando compreender a realidade apenas no plano intelectual. O que é compreensível, pois somos uma espécie racional, precisamos analisar o que é lógico e correto. Mas ficar refém do intelecto pode ser tão limitante quanto ter uma mente condicionada por dogmas, crenças e tradições: tampouco se consegue o conhecimento prático necessário para “nadar” na vida.
Portanto, é preciso desenvolver a própria capacidade de experimentar a realidade. E como somos moldados por anos de condicionamento vindos do meio em que crescemos, precisamos nos esvaziar primeiro. O que significa aprender a desaprender o que aprendemos. Um desafio e tanto, não?
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