Nesta entrevista, a facilitadora Claudia Vassão, uma das pioneiras no desenvolvimento da Constelação Sistêmica com cavalos no Brasil, mostra como esses animais podem nos auxiliar nos processos de autoconhecimento, cura emocional e na tomada de decisão
Por
Alice Duarte
Os cavalos, com sua força, sensibilidade e percepção aguçadas, têm impulsionado nosso progresso material há milhares de anos. E, mais recentemente, passaram a nos auxiliar numa outra caminhada, a do autoconhecimento.
Aqui, no Brasil, há cerca de cinco anos esses animais começaram a ser testados dentro do campo da Constelação Familiar,
técnica terapêutica criada pelo alemão Bert Hellinger. Uma das pessoas à frente desses experimentos é Claudia Vassão, que atua como consteladora há seis anos e vem enriquecendo a técnica ao integrar as abordagens do Eagala, método americano que mescla sessões de aprendizagem e psicoterapia assistida com cavalos, com a Somatic Experiencing, uma terapia para a cura de traumas em pessoas.
Para aprofundar essa vivência, Claudia conduziu um workshop de imersão na Constelação e no Coaching Sistêmico com Cavalos em Camboriú (SC), no Hotel Fazenda Caetés, entre os dias 13 e 17 de janeiro. No último dia do encontro, ela fez um balanço desse trabalho e falou das possibilidades e oportunidades que se abrem com o uso desses animais para fins terapêuticos.
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Alice Duarte – Quais são os diferenciais de uma Constelação com cavalos?
Claudia Vassão – O que chama a atenção pra mim nesse trabalho é que eles não têm intenção nenhuma. Eles são representantes porque de alguma forma se disponibilizaram para isso. Eles não querem que a pessoa fique bem, não querem julgar se essa pessoa está fazendo besteira na vida dela ou não.
Normalmente, nós seres humanos, quando estamos em um trabalho em grupo, temos uma vontadezinha de ajudar, de fazer com que aquela pessoa fique bem no final. Então quando um cliente conta que, por exemplo, quer trabalhar a ausência do pai, muitas vezes as pessoas que estão representando o pai e o cliente na Constelação procuram criar uma aproximação que às vezes não é autêntica naquele campo. Com os cavalos fica muito mais tranquilo se entregar ao processo, ter uma confiança de que eles estão conectados também nesse campo de cura. Para quem já viu e participou de uma Constelação com cavalos percebe que há uma diferença. Os movimentos que eles realizam é como se fosse um passo a passo daquilo que está acontecendo internamente com o cliente.
“Com os cavalos fica muito mais tranquilo se entregar ao processo, ter uma confiança de que eles estão conectados também nesse campo de cura.”
AD – Este foi o primeiro workshop que você trabalhou com imersão nesse tipo de abordagem, amarrando seus conhecimentos em Constelação, Eagala e Experiência Somática. Como foi formatar tudo isso e qual o seu objetivo com esse tipo de curso?
CV – Eu busquei essa certificação Eagala, pois achei muito interessante a abordagem da psicoterapia com os cavalos e da aprendizagem, que é muito semelhante ao coaching. E eu percebi com a minha formação em Experiência Somática, a renegociação de traumas, que, embora se busque uma cura espiritual, às vezes um sintoma que estava registrado no nosso corpo permanece ali, então é importante liberar isso no nível somático. Juntando essas três abordagens, a proposta foi criar sessões conduzidas através de tarefas dadas ao cliente ou a um grupo, observando todas as sensações do corpo e lendo o que está acontecendo com o cliente.
No decorrer do processo a gente percebe que o trabalho leva a questões sistêmicas, e a Constelação acontece naturalmente. No meio da tarefa o cliente pode entrar em contato com alguma questão sua. Então perguntamos a ele o que ou quem esse cavalo representa. Pode ser a mãe, por exemplo, que no princípio não tinha nada a ver com a tarefa em si, mas que naquele momento pode se manifestar porque o cliente tem alguma questão sistêmica pendente com a mãe. Aí aplicamos as técnicas de Constelação Familiar e estaremos em contato com o campo [
mórfico] para perceber qual é a frase de solução que pode levá-lo a uma tomada de consciência daquela situação. E depois retomamos a atividade até o final.
AD – Às vezes essas sessões podem atingir as pessoas em níveis muito profundos, gerando sofrimento emocional e até físico. Eu notei que você teve uma preocupação em modular o ritmo e a intensidade do trabalho para que o grupo pudesse avançar junto com bem-estar. Eu queria que você comentasse isso.
CV – Algumas terapias e terapeutas acreditam que precisa ser intenso e forte para que haja um efeito. Via que cliente estava passando por um processo de dor e vinha com o intuito de se curar, então por que ele precisaria reviver isso? Eu comecei a buscar respostas para essa questão. Foi assim que comecei a aplicar a abordagem da Experiência Somática dentro da Constelação Familiar, para que não retraumatizasse o cliente, nem os representantes, nem eu mesma. Então é possível sair bem, sem ter processos emocionais longos.
AD – Como dar esse apoio num processo de cura e liberação de um trauma se a pessoa ainda não desenvolveu internamente as ferramentas e os recursos para lidar com aquilo?
CV – O apoio é não permitir que a pessoa vá rápido demais, nem fundo demais na situação. Gosto de sempre ter isso como foco. Às vezes o cliente consegue se autorregular sozinho, às vezes não. Ainda mais num formato de trabalho como esse, de imersão, onde se faz vivências de manhã e à tarde na sequência, e as coisas podem ficar muito intensas. Por isso nós pensamos em mesclar com outras atividades, como aulas de yoga, dança e banhos de piscina, além da alimentação curativa, para que as coisas fossem acontecendo mais suavemente.
“O apoio é não permitir que a pessoa vá rápido demais, nem fundo demais na situação. Gosto de sempre ter isso como foco.”
AD – Além do âmbito pessoal e familiar, como os cavalos podem nos auxiliar a clarear questões no meio empresarial e organizacional?
CV – Há muitas possibilidades de trabalho nas empresas e organizações, principalmente com a linha de atuação do Eagala. É algo ainda pouco explorado no Brasil. Na área de projetos, por exemplo, é possível clarear questões como: quem são essas pessoas que vão trabalhar no projeto? Qual é o envolvimento deles? Quem de fato é o líder? Quem vai ter a solução para resolver algo? Quem vai trabalhar melhor sob pressão? Quem é o conciliador, o catalisador ou aquele que bagunça tudo? Nessas tarefas em grupo, interagindo com os cavalos, todas as características, potencialidades e fraquezas das pessoas ficam muito evidentes.
Nós fizemos uma vivência de escolha e consequência, na qual foi dada uma tarefa para o grupo fazer com os cavalos e cada pessoa tinha que assumir a personalidade de um dos Sete Anões. Nesse trabalho ficou evidente o quanto foi difícil manter essa personalidade forjada, uma máscara. Algumas pessoas acham importante criar uma postura profissional moldada para aquele projeto, para aquela empresa, mas o quanto é possível sustentar isso? Ou seja, na hora que vem uma demanda maior, uma pressão, aquilo tudo vai por água abaixo. Com os cavalos, de alguma forma, essa autenticidade vem à tona.
Além dessa análise do ponto de vista do coaching, é possível ver, no âmbito da Constelação com os cavalos, por que algumas coisas simplesmente não caminham num projeto ou numa empresa por estarem envolvidas em dinâmicas sistêmicas.
AD – Por que se utiliza cavalos e não outros animais como os cães, que há milhares de anos foram domesticados e são nossos companheiros de jornada?
CV – Os cavalos nos acompanharam em nossa história evolutiva. Eles permitiram que fossem domados e muitas de nossas conquistas contaram com o apoio deles. De alguma forma os cavalos conseguem fazer uma conexão conosco de forma profunda. Eles ficam à disposição numa Constelação pelo tempo que for necessário, acompanhando cada movimento. Os cachorrinhos e gatinhos também participam, só que de outra maneira. Até mostram algo, mas se dispersam rapidamente. Muitas vezes os pets que convivem dentro de uma família fazem algo no lugar de alguém do sistema. Para poupar o seu dono ou algum familiar, eles adoecem, sofrem acidente.
“De alguma forma os cavalos conseguem fazer uma conexão conosco de forma profunda.”
AD – É mais fácil perceber as emoções (e como elas se manifestam no corpo) nas pessoas que nos cavalos, que mostram isso de forma muito mais sutil. Só o constelador consegue interpretar ou o cliente também pode notar alguma coisa?
CV – Os cavalos não têm muita expressão facial, não dá para saber se está feliz, triste ou se está bravo apenas pela expressão de seu rosto. Da mesma forma como na Constelação com pessoas, eu presto atenção principalmente no meu corpo e fico muito conectada no que eu estou sentindo, o que aquilo que está acontecendo ali causa em mim, no cliente e no todo. Na Constelação, não importa muito se esse movimento representa isso ou aquilo, mesmo porque isso vai ser diferente em cada Constelação, para cada representante, para cada cavalo.
Eu observo se o que o cliente está falando é o mesmo que seu corpo está mostrando. Então, por exemplo, um cliente pode falar: “Eu nunca tive medo de cavalo”, mas seu corpo está mostrando o contrário, está todo retesado, recolhido. Essas diferenças entre o que se fala, o que se sente, pensa e faz, o cavalo lê no ser humano. Como nós somos os predadores e eles são as presas, eles precisam fazer essa leitura. E numa Constelação, ao fazerem essa leitura de um cliente ou de outra pessoa que está dentro da Constelação – pois, em algumas situações, eu coloco pessoas para representar junto com os cavalos –, às vezes isso tem um efeito neles.
Observando os movimentos do animal – se ele recuou, se aproximou ou se está relaxado – dá para ter uma ideia do que está acontecendo ali com aquela pessoa, coisas que às vezes nem ela sabe. Então vamos acompanhando os movimentos, que sempre são imprevisíveis. Claro que ficamos atentos à questão da segurança. Se os cavalos estão acuados, podem dar um coice, um pisão ou correr e derrubar uma pessoa.
“Essas diferenças entre o que se fala, o que se sente, pensa e faz, o cavalo lê no ser humano.”
AD – Algo assim já aconteceu com você?
CV – Uma vez, num trabalho em dupla. Os cavalos estavam soltos livremente para interagir, se assim fossem convidados pelo campo [
mórfico ou de informação] e um deles, de forma imprevisível, deu um coice na perna de uma das mulheres e ela caiu sentada. Não aconteceu nada sério com sua perna, mas ela mesma teve uma leitura daquele gesto e isso gerou todo um movimento interno de percepção sobre a questão que ela estava trabalhando.
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Fantástico esse trabalho de Constelações com cavalos!
Tambem sou facilitadora em Constelações Sistêmicas em São Paulo-Capital. Gostaria de saber como faço para ter mais conhecimentos a respeito.
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Olá Neuza. Você pode buscar mais informações sobre esse trabalho no site da Claudia Vassão: http://espacoluzdoser.com.br/
Abraço!
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